Desencontro. ( 005 )
- kamposu43
- 10 de ago.
- 4 min de leitura
Luck saiu do carro de forma bastante lenta, ajustou sua blusa rapidamente e entrou na multidão fervilhante. As pessoas conversavam e riam em voz alta, causando uma enorme poluição sonora no local.
Ele tinha cuidado ao avançar, evitando esbarrar nos ombros de todas aquelas pessoas estranhas que estavam na sua frente. Porém, mesmo com toda a atenção, sentiu um impacto forte que o fez recuar alguns passos.
À sua frente estava um homem de cabelos lisos e loiros, com um olhar afiado e postura ereta. O desconhecido olhou Luck dos pés à cabeça, o rosto dominado por uma expressão neutra.
— Tome mais cuidado ai, moleque — disse o homem, com voz lenta e alta.
Luck abriu a boca para responder, mas, antes que pudesse dizer algo, o desconhecido se afastou, atravessando um grupo de pessoas e desaparecendo de sua vista. Um arrepio passageiro percorreu toda sua espinha — aquele sujeito não parecia gente boa.
Sem tempo para se importar com aquele estranho, Luck sacudiu a cabeça e continuou caminhando. À distância, avistou alguém que se destacava na multidão: uma garota loira de pele branca, usando óculos de aro fino e dourado. Ela mantinha uma postura impecável, vestindo um conjunto que parecia ter sido passado a ferro naquela manhã — uma blusa social branca, bem alinhada, uma saia preta até os joelhos e uma meia-calça escura...
Porém, o que mais se destacava na garota era o cabelo — não apenas preso, mas domado. Amarrado em um coque impecável, onde nenhum fio ousava escapar, cruzado por duas agulhas vermelhas de trinta centímetros que se entrelaçavam em um X perfeito.
A moça parecia estar à procura de alguém. Seus olhos castanhos percorriam a multidão com pressa, enquanto um dos pés batia no chão com bastante impaciência. Os braços estavam cruzados, e os dedos tamborilavam contra eles, até que seu olhar encontrou o rosto de Luck.
Ao reconhecê-lo, a garota soltou um suspiro pesado, as sobrancelhas arqueando em exasperação.
Luck esboçou um sorriso lento e sem graça.
“Puta que pariu, é a Fernanda”, pensou ele.
Ela, percebendo o sorriso dele, fez um gesto breve com o dedo indicador, chamando-o para perto.
Obediente, o jovem avançou com o rosto avermelhado e um sorriso forçado, parando a cerca de três metros dela.
Por alguns segundos, ninguém falou. Os dois ficaram se encarando — os olhos de Luck, semicerrados; os de Fernanda, pesados e intensos.
— Parece que me atrasei um pouquinho, né… — disse Luck, levando uma mão à nuca e coçando-a lentamente.
Fernanda balançou os ombros com indiferença, fechando os olhos como se estivesse evitando perder o pouco de paciência que ainda tinha.
— Eu já sabia que você ia se atrasar, Luck. Na verdade, até achava que você nem viria — disse Fernanda, com os lábios tensionados em uma linha fina.
As sobrancelhas de Luck se arquearem, e um sorriso irônico apareceu no canto da boca. Ele apontou o dedo indicador para ela, respondendo em voz alta e acelerada:
— Não vem com essa, Fernanda! Hoje você não vai me encher o saco com essa obsessão por pontualidade. Você também está atrasada!!!
— Não estou.
— Então o que está fazendo aqui fora?
— O mesmo que todos os outros alunos…
— Tá, eu sei que estou atrasado. E quando se está atrasado, fica do lado de fora do lugar onde se quer estar — gesticulou, abrindo os braços para a multidão. — Igual essa galera toda aqui, que também deve estar atrasada. Ora, se eu e eles estamos atrasados, e você está no meio deles… Sinto dizer, Fernanda, mas você também está atrasada — argumentou, as mãos desenhando explicações no ar, o olhar fixo nela como se estivesse ensinando uma criança.
Fernanda deu dois passos à frente. Ergueu o dedo indicador da mão direita e cutucou o peito esquerdo de Luck com a unha — acertando sem querer seu mamilo. Um sorriso surpresa lhe escapou ao ver a reação dele.
— Ai, meu mamilo…
— Luck. Eu cheguei no horário. Como todo mundo aqui.
— Ah, é? Então por que tá todo mundo aqui fora? — perguntou ele, esfregando o local dolorido enquanto recuava.
— Porque quem está atrasado, além de você, é o pessoal da Legado — Fernanda revirou os olhos — e não eu nem todas essas pessoas…
— Ah… Esse pessoal é bastante incompetente mesmo. Já sabia que não era boa ideia deixar essas empresas estrangeiras trabalharem por aqui — resmungou Luck, coçando o queixo com ar de superioridade.
Fernanda cruzou os braços e soltou outro suspiro profundo, desta vez mais exasperado.
— Se incompetência significa apenas se atrasar, você então é o ser mais incopetente do mundo, Luck.
— Hah! Não vem com esse papinho pra cima de mim não, Fernanda. Eu trabalho demais e por isso me atraso. Mas vamos mudar de assunto, porque não quero discutir com você… — respondeu ele, imitando o gesto dela e cruzando os braços, fazendo biquinho.
— Sei… Bom, pelo menos tenta procurar a Júlia e o André por aí. Já faz um tempo que estou atrás deles — Fernanda ignorou o tom provocador dele.
— Sumiram, é? Achei que você estava me procurando agora há pouco… — disse Luck, puxando uma careta falsamente fofa.
Ela olhou dos pés à cabeça dele, erguendo uma sobrancelha com desdém.
— Nunca.
— Nem pra ser uma pessoa que se preocupa com os amigos você serve, Fernanda… — ele suspirou, dramático.
— Eu me preocupo com meus amigos. Só não com você, que é um cabeça-oca.
Sem perder o ritmo, Luck continuou a provocá-la, dando um passo para trás quando ela tentou dar-lhe uma bicadinha na canela. Ele revidou tentando beliscar o braço dela, mas Fernanda desviou com um movimento ágil, soltando um "tsc" de desaprovação.
Enquanto os dois brigavam feito cachorrinhos,uma pessoa acabou tocando no ombro de Luck. Fernanda, ao perceber isso, então liberou um sorriso de sua boca. Luck, por sua vez, ao sentir o toque no ombro, dá um leve giro na direção da pessoa.
— Julia! Finalmente você apareceu! Por onde vocês estavam? Não falei para vocês me esperarem em um local visível — falou Fernanda, em um tom preocupado enquanto se aproxima dela, colocando as mãos para trás em sequência.
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