Atrasado. Part 2. ( 002 )
- kamposu43
- 9 de jul.
- 5 min de leitura
Atualizado: há 5 dias
O pai de Luck caminhou para fora do quarto, seu olhar ainda permanecia furioso, já que seu filho acabara de bater com força a porta do banheiro.
— Já era para eu estar lá! A aula ia começar às 07:00 da manhã.
— Mas isso não é motivo para você destruir a casa, moleque!
— Desculpa aí, mas eu realmente quero fazer esse curso! Então preciso me apressar logo…
O velho então soltou um profundo suspiro — quase soltando fumaça pela boca — tentando se acalmar um pouco. Deu alguns passos para frente, chegando perto da porta do banheiro, e cruzou os braços logo em seguida.
— Será que eu posso saber que curso você vai fazer? É algo relacionado à química, física, biologia… molecular, né? Ou sobre matemática?
— Ah! Eu esqueci de falar o que eu ia fazer, né, pai? — disse Luck, sorrindo no final da frase, enquanto tomava banho.
— Sim! Me fala logo, qual é?
— É um curso pra ver se eu consigo me tornar um… qual é mesmo o nome? Sentinela!! Isso aí!!
O pai de Luck então arregalou os olhos ao escutar tal resposta.
— Um Sentinela? Sério isso? Pensei que você nunca teria vontade de fazer esse tipo de coisa!
— E por que eu não faria? Pelo que o André me falou, esse trabalho dá uma boa grana. Acho que uns cinquenta mil reais por mês — disse Luck, com um tom de voz mais grave, enquanto dava um sorriso de canto de boca.
Ao ouvir a fala do filho, o homem balançou a cabeça, mantendo um olhar pesado, cheio de desgosto…
— Ahhhh!! Então é por isso que você está querendo fazer esse curso…
— Ué, e qual seria outro motivo pra eu ir fazer esse curso?
— Virtude! Todo mundo na minha época buscava se tornar um Sentinela depois de completar os dezoito anos de idade, para então poder proteger a humanidade dos perigos deste mundo, Luck.
— Bom, mas é como o senhor dizia: eu não sou todo mundo, pai. E virtude não enche barriga, né? Sem contar que... o senhor acreditava mesmo que as pessoas se tornavam Sentinelas para salvar ou proteger a humanidade?
— E por qual outro motivo seria?
— Dinheiro, ué.
— Luck, claro que existem pessoas cujo objetivo principal é o dinheiro, mas isso deve ser minoria. Bom, eu sou a prova viva de que nem todo mundo se tornava um Sentinela por causa do dinheiro que eles davam. Você sabe disso…
— Sim, eu sei disso, pai. Você se tornou um Sentinela, lutou em duas guerras, blá, blá, blá — disse Luck, com um tom irônico.
— Então tenta ser como o velhão aqui, ué! Tenta ir por esse caminho, hehehe.
Quando o pai de Luck terminou sua fala, sorrindo, logo o viu sair do banheiro, já trajado com sua camiseta preta apertada, que contornava seus músculos, e uma calça jeans da mesma cor, um pouco folgada. Ele passou ao lado do pai, usando um chinelo molhado que, a cada pisada no chão, grudava e liberava um som úmido e pegajoso.
Luck se virou para o pai, logo depois de estar a alguns metros de distância dele, e então falou:
— E acabar sendo enganado igual tu, pai? Nem a pau!
— Luck…
— “Luck” nada, pai. Era pra tu estar com uma vida muito melhor se não tivesse confiado neles. Pai, tu lutou em duas guerras mundiais e, em nenhuma delas, tu ganhou tua compensação, teu money, sabe, o que te prometeram antes de você ir. E ainda por cima, não fez nada, não lutou por aquilo que era seu por direito, apenas aceitou ser roubado. — Luck falou, franzindo a testa, deixando seu cabelo molhado cair sobre parte do rosto.
— Mas não havia o que fazer. Eu só tinha que aceitar. Não podia fazer nada. O governo da época ficou encarregado de cuidar da entrega das bonificações pós-guerras de cada um. Já te contei isso umas mil vezes, Luck…
— Sim, pai, eu sei que o senhor já me contou isso muitas vezes. E, a cada vez que me lembro desses detalhes, mais acredito que devo pensar no dinheiro primeiro do que outra coisa — explicou Luck, balançando a cabeça, enquanto olhava para o pai, mudando para um olhar calmo que suavizava o rosto.
— Tudo bem, Luck. Porém, também tente pensar em ajudar as pessoas…
— Claro, pai, pode ficar tranquilo. Esse será meu segundo objetivo — disse Luck, sorrindo e balançando a cabeça rapidamente. — Mas agora, sabe me dizer onde caralhos está o meu tênis? Aquele branco?
Seu pai soltou um leve sorriso pela boca e, logo em seguida, apontou um dos dedos indicadores para um dos lados do corredor.
— Eu acabei lavando ele ontem à noite. Vi que você chegou tarde e foi dormir logo em seguida, então quis te ajudar um pouco, né.
Luck balançou novamente a cabeça, virou de costas para o pai e começou a correr em direção ao início do corredor — passando pela porta de seu quarto e do seu pai — que dava acesso a uma escada que levava ao andar de baixo, o primeiro andar.
— Valeu, pai — disse ele, mostrando um joinha com os dedos.
Ao chegar ao primeiro andar, Luck se viu na cozinha. Era um local não muito grande, com um fogão simples de quatro bocas, um filtro de barro, dois armários brancos que guardavam copos, talheres e pratos, uma geladeira também bem simples, da cor branca, e, no centro, uma mesa de madeira forrada com um pano xadrez em preto e branco. O chão, diferente do segundo andar, não tinha piso, e o teto não tinha forro.
Luck passou por ali correndo, sem nem ao menos pegar algum alimento que havia sobre a mesa. Ele então abriu a porta que ficava do outro lado do cômodo, dando de cara com a sala — um local um pouco maior do que a cozinha —, onde havia três sofás forrados com um pano verde, que poderiam acomodar quatro pessoas, uma poltrona da mesma estrutura, forrada com um pano vermelho-tinto, uma mesa onde ficava a televisão e uma estante com algumas fotos emolduradas. O chão da sala era revestido com piso de azulejos brancos.
Ele também passou pela sala de forma bastante abrupta, correndo em direção à porta que ficava ao lado direito de sua visão. Essa porta era diferente das demais, já que era feita de metal verde, com sua metade superior aberta, protegida por uma vidraça e uma grade com barras no formato de coração.
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