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Atrasado. ( 001 )

Atualizado: há 6 dias

O alarme do despertador ecoou estridentemente, cortando o silêncio que predominava sobre um quarto pequeno e um pouco bagunçado, com paredes pintadas de verde-claro, um teto com forro branco e um chão feito com um belo piso de madeira de bétula cortada em paralelepípedos.


Um armário de madeira marrom ficava em um dos cantos do quarto. Ao lado dele, havia uma estante com vários bonecos de personagens de animes e, ao lado da estante, um espelho enorme e retangular, grande o suficiente para refletir completamente o corpo de quem o usasse.


Naquele quarto, que não era muito grande, localizava-se no centro dele uma cama de solteiro, feita com madeira de pinus, que ficava sobre um tapete circular roxo. Sobre a cama, havia um colchão branco, forrado por um lençol da mesma cor e, sobre o lençol, um travesseiro verde-claro.


E sobre eles, um homem repousava em sono profundo, sem se importar com o barulho que o despertador fazia, soltando de seus lábios um pequeno fio de saliva, que caía sobre o travesseiro. Esse homem tinha uma aparência jovial — não aparentava ter mais de 26 anos de idade.


Tal homem possuía um corpo bastante musculoso e grande, uma pele esbranquiçada, cabelo preto cacheado com volume no topo e com as laterais raspadas em degradê. Seu corpo estava esparramado por toda a cama, com o tronco virado para cima. Ele vestia apenas um short curto e preto, feito de seda.


De repente, um som seco se formou do outro lado do quarto. Batidas pesadas fizeram a porta de madeira de bétula — pintada de marrom — vibrar intensamente, ultrapassando com facilidade o som do despertador.


Porém, mesmo com tantos barulhos, o rapaz ainda não acordara de seu sono pesado.


O barulho da porta durou apenas alguns segundos, sendo logo substituído por um tilintar de chaves se chocando umas contra as outras. Em instantes, esse som deu lugar ao ruído da tranca da porta sendo aberta.


Então, a porta se escancarou de forma violenta, produzindo um estrondo, como se um trovão tivesse invadido o quarto. Por ela adentrou um homem de aparência um pouco envelhecida, com cabelos lisos e grisalhos. Ele ostentava um belo bigode da mesma cor dos cabelos. Sua pele era bronzeada, marcada por uma vida de trabalho exaustiva, e sua barriga avantajada denunciava os muitos drinks de cerveja consumidos nos fins de semana.


Aquele homem vestia uma camiseta azul-escura, shorts pretos de seda e chinelos brancos. Em seguida, caminhou com passos pesados até a cama do jovem; seus olhos castanhos emanavam uma raiva enorme, que se refletia em cada traço de seu rosto.


Ao ficar ao lado da cabeceira da cama, o homem bufou ferozmente, assemelhando-se a um búfalo. Em seguida, virou a cabeça na direção da janela que ficava bem à frente da cama. Logo depois, olhou para o despertador, que estava em cima da estante e ao lado de uma personagem feminina um tanto estranha, já que ela usava apenas uma espada grande para tapar suas partes íntimas.


Ele então se moveu até o despertador, desligando-o com um toque forte. Em seguida, deu alguns passos para o lado, posicionando-se de frente para a janela, que, por sua vez, era de ferro e tinha a cor azul-branca. Com um movimento rápido e cheio de fúria, o homem abriu a janela e caminhou para o lado, fazendo com que os raios solares daquela manhã invadissem o quarto e caíssem sobre o rosto do jovem sonolento.


— Mas é a Bela Adormecida mesmo — disse o homem, em um tom de voz elevado, enquanto via que o dorminhoco nem ao menos se mexia.


O homem voltou a se aproximar da cabeceira da cama, respirou fundo e então começou, lentamente, a tapear a bochecha do jovem. Vendo que, mesmo assim, o vagabundo não acordava, decidiu aumentar gradualmente a intensidade de seus tapas.


— Ei, Luck, acorda, preguiçoso! Você não tem compromisso hoje?


Depois de alguns segundos tentando acordá-lo, Luck começou a esboçar algumas reações. Soltou alguns sons incompreensíveis, seus olhos começaram a se abrir, enquanto ele tentava proteger o rosto dos tapas do velho.


— Quê? Hã?! Hoje é sábado... Mas nem fudendo que eu vou trabalhar! — respondeu Luck, abrindo os olhos completamente, olhando na direção do homem, bocejando e se espreguiçando logo em seguida.


O velho arqueou uma das sobrancelhas ao escutar a fala de Luck.


— Mas isso é jeito de falar com o seu pai? — criticou o velho, puxando uma das orelhas de Luck logo em seguida, fazendo-o sentar à força na beirada da cama.


— Eu não criei filho meu pra virar um sem educação que não sabe respeitar os mais velhos — disse o homem, enquanto balançava a orelha de Luck de um lado para o outro. O garoto apenas bocejava, ouvindo as palavras do pai.


— Foi mal, velhote! É o sono... sabe como é, mexe com o metabolismo e tudo mais...


— Que mexe com o metabolismo o quê, rapaz! Olha, eu só não te falo mais nada porque você já tá atrasado.


— Atrasado pra quê, pai? Hoje é sábado. Já falei que nem a pau que eu vou sair pra trabalhar.


— E quem falou em trabalho? Você não tinha marcado de sair com seus amigos? Pra ir pro cursinho?


Quando o pai de Luck terminou de falar, o garoto arqueou as duas sobrancelhas, como se tivesse acabado de perder toda a vontade de dormir até o meio-dia.


— Pior que é! Hoje já é dia quatorze? — perguntou Luck, olhando para o pai enquanto coçava o nariz.


Luck então tirou a orelha da mão do pai com um simples movimento, fazendo o sinal da cruz logo em seguida. Pisou no chão e caminhou lentamente até o armário. Abriu uma das portas, pegou uma peça de roupa qualquer, virou-se para o pai e perguntou:


— Que horas são mesmo?


— São exatamente 8h da manhã. Que horas era pra você estar lá?


Ao ouvir a resposta do pai, ele voltou a arquear as sobrancelhas, dessa vez com mais intensidade. Sem dizer mais nada, correu para fora do quarto, em direção ao banheiro, que ficava no final do corredor. Abriu a porta do banheiro — idêntica à do seu quarto — e a fechou com toda a força que conseguiu naquele momento.


 
 
 

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